quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Psicogênese da Língua Escrita





Segundo Emília Ferreiro, até os 4 anos, as crianças tentam compreender que tipo de objeto são as letras e os números de nosso sistema de representação convencional. As grafias são consideradas somente como "letras", "números", "a, e, i, o, u", etc. Para a criança desta faixa etária as "letras" ou os "números" não substituem nada, são aquilo que são, um objeto a mais que como outros no mundo possuem um nome.Essa maneira de pensar muda mais tarde. As grafias servem para substituir outra coisa, passam a ser "objetos substitutos", que têm um significado, ainda que diferentes do nosso ponto de vista de adultos alfabetizados, pois para as crianças as grafias não representam sons. O primeiro tipo de relação consiste em buscar algum elo de ligação entre os sinais gráficos e os objetos do mundo. Como os objetos têm nome, a relação se estabelece quando para um conjunto de letras se atribui o nome do objeto ou figura que o acompanha.Porém o nome ainda não é a representação fonológica e sim uma propriedade dos objetos que podem ser representados através da escrita, a atribuição depende muito mais da relação com o objeto do que das propriedades daquilo que está escrito. Exemplificando, quando a criança ”lê” a palavra “macaco” porque a escrita está próxima do desenho de um macaco, essa mesma palavra pode ter outro significado se estiver próximo de um outro desenho. Chega o momento no processo evolutivo que as crianças estabelecem alguma hipótese entre os sons e as letras.
A primeira hipótese que aparece é que as letras representam sílabas. A hipótese silábica consiste em atribuir uma sílaba a uma letra, a qualquer delas e a correspondência é mais quantitativa que qualitativa. Para um nome trissílabo fazem falta 3 letras. Mas, no caso de nomes monossílabos ou dissílabos, duas e uma letra são "poucas". Com poucas letras (menos de três) se vai de encontro a uma outra hipótese da criança que consiste em exigir uma quantidade mínima para que consiga "ler". "A relação entre escrita e linguagem não é um dado inicial. A criança não parte dela, mas, chega a ela". Passa de uma correspondência lógica (uma letra para cada sílaba) para uma correspondência mais estável (não mais qualquer letra para qualquer sílaba).
A idéia de que a escrita é um objeto substitutivo, isto é, tem um significado, está bastante distante da redução à uma simples associação entre fonemas e sons e não depende unicamente de uma representação dos fonemas.


Nas aprendizagens envolvidas no processo de alfabetização é necessário distinguir, como o faz Emilia Ferreiro:


1. A aprendizagem de certas convenções fixas, exteriores ao sistema de escrita, como por exemplo: orientação, tipo de letra;
2. A aprendizagem da forma de representação da linguagem que define o sistema alfabético;
3. Precisamos aceitar como escrito o que é escrito de formas não convencionais ao sistema;
4. É necessário conhecer o conjunto de "idéias prévias", "esquemas de conhecimentos" a partir dos quais intervir no processo de aprendizagem;
5. Devemos fazer uso de uma metodologia que permita às crianças saírem de suas teorias infantis e progressivamente construir as convenções sociais que estão nas atividades de leitura e escrita.

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